sexta-feira, 25 de junho de 2010

Saúde preventiva em Uberlândia



TEXTO NA ÍNTEGRA

Em Uberlândia, gasta-se com saúde mais do que determina a Emenda Constitucional 29, o que poderia ser, em uma análise fria, algo muito bom para a população. Para o ano de 2010 foram previstos recursos de mais de R$ 238 milhões, correspondentes a 21% do orçamento municipal. Além de discutir estes valores, precisamos, também, fazer uma reflexão sobre como todo este dinheiro está sendo empregado.


Recentemente fizemos um criterioso levantamento, no “Diário Oficial do Município”, e constatamos que o município gastou em 2009 quase R$ 21 milhões, cerca de 10% do orçamento deste ano para a saúde, para custear leitos de UTIs em hospitais particulares e exames cardíacos. Nos primeiros cinco meses deste ano, já são mais de R$ 11 milhões, o que pode superar proporcionalmente os gastos do ano passado. Gastos indispensáveis para salvar vidas, mas que poderiam ser evitados, se tivéssemos tido, nas gestões municipais, um planejamento que contemplasse investimentos na construção de leitos hospitalares, inclusive UTI.

O Hospital Municipal — a ser inaugurado nos próximos meses, com previsão de credenciar 258 leitos, dos quais 50 de UTI — vai amenizar um pouco o problema, mas não resolverá o déficit da cidade, que hoje está em torno de mil leitos. Em Uberaba, por exemplo, um município com um pouco mais da metade da população de nossa cidade, possui mais leitos hospitalares que Uberlândia, atualmente com um total de 987 (3,7 leitos por mil habitantes), enquanto nossa cidade possui 650 leitos (1,2 por mil habitantes). Os dados são do DataSUS.

Portanto, não podemos “vender” para a população a ideia de que o problema dos leitos locais se resolverá com o futuro Hospital Municipal. Para solucionar esta questão precisamos da união de esforços do governo federal, Estado e município, com ações planejadas, de médio e longo prazo. Mas, para que isso aconteça, obrigatoriamente, é necessária por parte do município a priorização desta demanda, algo que não estamos percebendo.

Mas, para entender como chegamos a essa situação, temos que voltar à década de 90, quando o nosso município fez a opção por um modelo próprio de serviço de saúde pública, centrado nas Unidades de Atendimento Integrado (UAIs) e priorizando o pronto-atendimento, em detrimento aos investimentos na atenção primária, conforme preconiza o SUS.

E, em virtude disso, pagamos um preço alto, porque não investimos em prevenção, prova disso é que Uberlândia tem apenas 24% de sua população coberta pelo Programa Saúde da Família, que, entre outras ações, estabelece um vínculo com as famílias e faz o acompanhamento de doenças crônicas, evitando-se assim possíveis ocupações de leitos hospitalares e diversos outros gastos na saúde.

Logo, temos dois pontos cruciais que precisam ser resolvidos: um do ponto de vista estrutural, em função da falta de construção de leitos hospitalares; e o segundo, que é a necessidade de inversão de prioridades na gestão, que dê ênfase à prevenção como estratégia de assistência básica, o que terá um impacto direto na saúde da população. Desta forma, teremos os recursos de fato gastos com eficácia, o que traduzirá em serviços públicos de qualidade na área da saúde, o que não será nenhuma benesse, mas obrigação do poder público.

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